Relação ecológica desarmônica: A selva dos mortos-vivos

25/05/2012 18:19

 

A selva dos mortos-vivos

Esse é realmente um caso digno de um bizarro filme de terror e um concorrente de peso para a nossa simpática devoradora de línguas. Você vai conhecer agora a história das formigas da espécie Camponotus rufipes, naturais de florestas tropicais existentes em países como o Brasil e a Tailândia, que têm vivido sob o horror de um fungo capaz de controlar suas mentes e transformá-las em zumbis.    

Diferente da maioria das obras de ficção, o fungo Ophiocordyceps unilateralis não obriga os artrópodes ‘mortos-vivos’ a errarem pela Terra alimentando-se dos cérebros de seus companheiros de espécie. Na realidade, em uma bizarra mostra das estratégias evolutivas arquitetadas pela natureza, antes de matar a formiga, o fungo a obriga a utilizar suas mandíbulas para se fixar nas folhas das plantas mais baixas - habitats com luminosidade, temperatura e umidade ideais para sua proliferação.  

Nas semanas seguintes, os corpos servem de alimento para os fungos - sem, no entanto, afetar suas mandíbulas ou exoesqueleto, mantendo o animal pendurado e protegido contra outros microorganismos. Hastes irrompem da cabeça morta e liberam esporos no solo, onde podem infectar outras formigas. Esse perigo pode ajudar a explicar por que as espécies da região costumam ter as copas das árvores como habitat natural. 

 
Mas calma, não há riscos desse processo nos levar a um apocalipse zumbi. Na verdade, existem indícios da ação desse tipo de fungo que datam de milhões de anos atrás e nossas matas nunca se transformaram na zumbilândia artrópode. Diferentemente do inexorável fim para o qual a maioria dos filmes de zumbi aponta, a ‘cura’ não é apenas uma lenda e a própria natureza tem armas para combater a bizarra infecção.
 
 
Uma descoberta recente, publicada na revista Pnas e que contou com a participação de cientistas brasileiros, identificou um outro tipo de fungo que ataca justamente oOphiocordyceps unilateralis, diminuindo drasticamente a viabilidade de seus esporos produzidos. A descoberta pode ajudar a explicar como as colônias de formigas sobreviveram a esse terror oculto nas selvas por tanto tempo.